Entrei em casinos umas 3 vezes em toda a minha vida. Todas elas para "apenas ver" ou tomar um café assistindo a um espectáculo. Sempre vi os casinos como um antro cheio de compulsividade, de pessoas que não sabem que fazer à vidinha e de "aventadores" de fortunas e heranças. Sempre pensei que quem ali caía gastava o seu dinheiro raramente conseguia sair e nunca ganhava nada pois que sítios daqueles lá teriam as suas manhas para que o dinheiro acabasse nas mãos do estabelecimento fosse como fosse. Penso que tudo isto vem da educação que me deram de me resguardar de potenciais vícios e ouvir ou ver que fulano tal gastava o dinheiro todo no jogo ou que a não sei quantas devia uma pipa de massa por causa do jogo. Whatever...
Daí que ontem, a medo, lá fui para novamente "ver" alguma coisa. Fomos eu, o meu Jacinto e um casal amigo nosso para que eles jogassem qualquer coisa. Sendo que no caso do meu Jacinto 30 euros seria o máximo porque nós temos um carro para comprar e muito em que investir e o pobre lá foi com a sentença lida sem precisar de lhe dizer nada de concreto. Rumámos a Badajoz e visto eu nunca lá ter entrado tiraram-me uma fotografia que nunca saberei como ficou dado que fui apanhada de surpresa e apenas serve para efeitos de registo. Eu tremia por todo o lado - nem contei isto a ninguém com vergonha - mas achava que estava a cometer um acto horrivel, um pecado mortal e que iam todos começar a jogar e a perder balúrdios sem quererem sair daí. No entanto eu tenho de começar a perceber que algumas pessoas também se sabem controlar e não apenas eu tenho essa disciplina mental com algumas coisas que acho nocivas. Acho que desde que deixei de fumar estou pior e mais recta quanto ao não deixar a vontade física e psicológica andarem às turras entre si.
Os 3 falavam de termos de jogos que para mim soavam aos e-mail's em Mandarim que recebo todos os dias no trabalho. Se me perguntarem que jogos de cartas sei começo a corar e digo baixinho:
"Ah... Bom jogar eu não gosto muito sabes... Chateia-me... Estar ali a ver cartas e... Epah... Ao burro em pé e ao peixinho..."
"Como?!"
Algumas pessoas nem devem saber muito bem o que isso é ou já se esqueceram.
"Isso..."
Já a minha mãe é um ás em muitos deles e o meu pai nunca o vi jogar mas faz uns truques engraçados com as cartas. Contudo sempre me incutiram no espírito que jogar é mau...
Sendo que para infortúnio do meu Jacinto jogar o seu amado Poker estava fora de questão pois a mesa estava fechada. Havia apenas Poker contra a mesa. A diferença é que o outro Poker seria tipo torneio e todos contra todos e não contra a mesa (que para quem não sabe é o próprio casino). Adorei o facto do Casino estar com pouca gente e tenho a perfeita noção que para a minha primeira vez teria de ser assim. Dirigimo-nos para a roleta. Começo a ver pessoal que não o meu a trocar bastante dinheiro fazendo-me espécie de como trocam várias notas de 50 euros sem sequer olharem para elas duas ou três vezes ou dizerem-lhe adeus com direito a uma salva de tiros ou uma cerimónia mais elaborada e respeitosas condolência à carteira. Nada... E nós nada nos saiu também.
Nisto começamos a ver a outra mesa de Poker contra a própria mesa com um senhor já bem bebido e alterado. Um homem fala com ele e chama-o à razão. Pede-lhe que se acalme e fale baixo. Viramos costas e dirigimo-nos para o lado oposto o dos dados. Encontramos mais gente aqui da aldeia e sentamo-nos ali - eu só observo sendo que os tremores já me tinham passado e já estava mais à vontade. O meu Jacinto já só tem 2 fichas de 5 euros que trazia da roleta e está a perder. Pergunta-me onde deve colocar as fichas... Algo me diz "Pequeno" e pimba! Acertamos. Ganhamos outra ficha. Ele estrega-mas e diz que estou por minha conta. Vai, vai, vai... Tumba! Acerto novamente no pequeno. Fico com o dobro do que aquilo que comecei. Entro em transe completamente. Ouço as vozes na minha cabeça: grande ou pequeno. Escolhe grande. Sai grande. Outra ficha. 25 euros. Escolho pequeno. Sai grande. O Jacinto diz para continuar a jogar, são 20 euros não faz mal... Pondero... Vá só mais esta (parecia os que jogam a alto e perdem tudo). Ganho. Deixo passar mais 2 jogadas e concentro-me. Ganho. Ganho. Ganho. Perco. Ganho. Ganho. Ganho. E ganho novamente. Com isto chego aos 110 euros e os nossos amigos e conhecidos riem-se de eu ser bruxa. Entrego 100 euros de fichas ao Jacinto e jogo com 10 euros apenas. Sei que vou perdê-los porque não me concentro. Os nossos amigos começam a apostar no mesmo que eu e perdemos todos. Uma, duas vezes. Eu já tinha sido abandonada pela minha maré de sorte pelo que peguei nos 100 euros e fui trocá-los por dinheiro verdadeiro e passei o resto da noite a ver os outros estourar tudo o que tinham e não tinham. Acabámos a observar a mesa do homem bêbado que tinha uns 60 anos e um namorado da nossa idade todo depilado. Ganharam bastante mas gastaram uma pequena fortuna. O homem tinha maços de notas nos bolsos que metiam respeito. O homem tinha uma tatuagem no braço assim muito rasca e esbatida representando um olho. O homem bebia e gritava. Medonho mesmo! Achei eu que guardava ali uma fortuna com os meus 100 euros que tanto jeito me fazem este mês. A minha visão de pobre comparada com os maços de notas do senhor do olho tatuado no braço é abissal.
Daí que hoje não me canso de dizer que ganhei 100 euros quando gastámos ao todo apenas 30 e que muitos gastaram tanto e nada levaram.
Quando contei ao meu pai e para me darem razão quanto aos meus receios a primeira coisa que ouvi do outro lado do telefone, como se eu não fosse uma mulher, quase casada, que ganho o meu e já dei mais provas provadas que sou responsável por mim, foi:
- Cuidado!
E fico por vezes a pensar que se eu não fosse a certas coisas, mesmo que com medo, que me diziam ser nocivas, boas mas viciantes ou que teríamos de o fazer de forma conscienciosa - que só por isso já me deixa com o cu arrepiado - metade daquilo que sou, vivi ou conheço não tinha absorvido, feito ou conseguido. Se isso é bom ou mau não sei mas fazem parte de mim anyway...
(Imagem da Web)